28 de agosto de 2012

Esse que eu amei


Esse que eu amei, foi meu primeiro namorado. Namoramos por um ano e meio, ficamos de moído por mais um ano. Entre brigas e voltas, deixamos de nos falar. Seria melhor. Até que o destino me deu notícias dele, de que ele se mudaria de Campina para sempre. Então nos falamos. E tivemos o melhor sexo de nossas vidas, ao ar livre, com as estrelas como testemunha. Dois dias depois fui a seu apartamento, ajudei-o a arrumar suas malas, e nunca mais nos vimos pessoalmente.

17 de agosto de 2012

Caixas de Sapato

Desde pequeno nunca entendi muito essa mania que minha mãe tem de colecionar caixas de sapato, mesmo deixando os próprios sapatos jogados por ai. Caixas de sapato, ao meu ver, serviam apenas para juntar poeira no verão e mofo no inverno.
Serviam...
É que hoje acordei inspirado a fazer uma faxina no meu quarto, e só então tive a necessidade/curiosidade de abrir cada caixa dessa coleção. Mais do que sapatos velhos e papelão, cada caixa destas, guarda memória, guarda uma vida.
Dentre fotos e livros velhos, pude ver parte da minha vida encaixotada como mercadoria.

16 de agosto de 2012

Carta de um suicida


Tem sido difícil. Meu relógio marca horas erradas, minha pressão está no alto de uma torre e os manuais me ensinam lições e maneiras que não me levam a lugar nenhum.  As dores? Estas já tem sido incuráveis; não há analgésicos, álcool ou saídas com amigos que me aliviem. A vida, a respiração e cada batida no peito dói. Uma dor que queima, rasga, dilacera e maltrata. Aos poucos. O que é bem pior. O nascer do sol não me anima, o seu se pôr não me surpreende. A morte em vida é a pior de todas. 
Cansado disso, darei a mim mesmo um presente: Um golpe de misericórdia. "A vida é bela e o paraíso é um comprimido" diz a canção. E é este paraíso que vou conhecer a medida que este comprimido se desfaz lentamente sob minha língua. Tão lento quanto minha dor. Meu medo. Minha visão tão escura quanto meu eu.
Despeço-me de vocês. Poupem-me suas lágrimas, pois estou apenas poupando a minha.

10 de agosto de 2012

O copo do liquidificador

Eu adorava quando ele acordava mais cedo, com cuidado ao sair da cama para não me despertar se um sono leve. Adorava fingir continuar dormindo só pra ver seus braços fortes e suas pernas grossas desfilando até o balcão da cozinha. Adorava sua cara meio susto, meio raiva com o barulho que o liquidificador fazia. Ele sempre zelava por meu sono. Sabe que fico de mau-humor quando sou acordado. Mas não era mau-humor. Era teatro. Eu só queria deixá-lo a vontade em sua regata branca e sua cueca estilo samba-canção para que pudesse tomar suas vitaminas direto no copo do liquidificador sem medo que eu pudesse achar aquilo grotesco e mal educado. Mas é que era grotesco e mal educado mesmo! Mas era lindo... O sol que entrava pela janela do apartamento, quando refletia nos seus pelos meio aloirados que insistiam em aparecer por fora da regata, formavam a mais bela silhueta masculina que jamais havia visto. Dentre tantos homens que passaram pelo meu apartamento, pela minha vida, era dele o peito mais bonito! Peito de homem, sabe? Malhado, peludo... Ficava lindo em conjunto com aquelas mãos grossas que seguravam o copo do liquidificador.
Mas já passaram por minha cama, meu apartamento e minha vida, outros corpos sarados, outros peitos peludos. Mas nenhum destes muitos corpos sarados e muitos peitos peludos se rendiam a delicadeza de me acordar de um sono fingido com um sussurrar de Bom Dia no ouvido, seguido de um leve beijo nos lábios. Nenhuma outra regata branca ou cueca estilo samba-canção me pegava pela mão a me levar até torradas quentes e ovos fritos. Ah, aquela boca carnuda que encostava no copo do liquidificador... Nenhuma outra me beijou de forma tão grotesca e mal educadamente linda.

Porn


Me bate com força. Finca teus dentes em minhas costas e tuas garras em meu peito. Faça-me sentir homem. Deixe-me marcas por dentro e por fora da pele. Me amarre, me jogue em cima da cama e explore cada centímetro do meu corpo. Grita, geme, fica de quatro e implora por mim. Depois de pisar no meu peito nu, sou eu quem mando agora, sua vadia. Abre a boca. Engole!

6 de agosto de 2012

Eu não gosto de estiletes


Eu não gosto de estiletes. Eles são instáveis, apesar de úteis. Se desgastam facilmente e é preciso quebrá-los para, enfim, usá-los. Eu não gosto de estiletes. Quando não estão cegos, passando desapercebidos por trabalhos já feitos, eles estão te ferindo, cortando mais do que deveria. É difícil encontrar o ponto ideal de um estilete. E este pondo ideal acaba muito rápido.
Eu gosto de adesivos. Estes, que se ferem e se rasgam com os estiletes, são fieis ao que foram colados. Eles são bonitos e cobrem qualquer ranhura, qualquer mancha, apenas por ser seu trabalho. Sinto que adesivos gostam disso. Eu gosto de adesivos. Eles ensinam. Se colam em algo que não quer sua aderência, eles simplesmente desistem, vão se colar em outro lugar. Nada de ficar tentando o que não vem.

2 de agosto de 2012

Manhã vermelha

Ela acordou cedo. Tomou um banho demorado, escolheu sua melhor lingerie, seu melhor vestido e borrifou sobre sua pele, o mais caro de seus perfumes. A casa estava arrumada e um delicioso almoço estava para ser servido. Só faltava a sua chegada. Ele. Aquele que ela por tanto tempo esperou.
Ele foi chegando, jogando os sapatos pela sala, arrancando os botões da própria camisa e pegando sua amada pela cintura. Arrancou-lhe um beijo. Dois. Três e uma manhã de amor.
-O almoço está pronto, querido! - gritou da cozinha a mulher que foi, de longe, a mulher mais mulher na cama. Sentado na mesa, ele, aquele que ela por tanto tempo esperou, viu uma arma apontada na direção de seus olhos. 
E foi a última coisa que ele viu. Ela, finalmente, o matou.