31 de maio de 2011

Alguém ouvindo?

Eu preciso de amigos, sabe? Na verdade eu acho que todo mundo precisa. Amigos te animam, te abraçam, te visitam... Esqueça toda aquela utopia de que bons amigos em vez de enxugarem suas lágrimas, não as deixam cair. Isso é pura mentira. Os verdadeiros amigos eles enxugam suas lágrimas, respeitam o seu choro de solidão e aparecem na hora certa. 
Eu preciso de amigos, eu preciso de abraços, eu preciso de um ombro para chorar as minhas dores, de alguém que enxugue minhas lágrimas. Já faz uma semana que não vejo nenhum deles, que não desabafo, que não abraço ninguém. A vida me deu golpes muito fortes e sobrevivi uma semana sem o apoio físico de ninguém. Muitos me ajudaram, muitos conversaram comigo, mas nada pessoalmente, e isso tá fazendo falta, sabe?
Talvez hoje minhas palavras não estejam tão melódicas, tão carregadas de frases bonitas que se completam, mas hoje estou mais afim de desabafar assim, naturalmente mesmo. Não! Não pensem que eu forço algo em outros textos, mas hoje minhas emoções estão privadas demais para conseguir algo melhor que isso. 
Então se algum amigo meu estiver lendo isso, entenda que estou realmente precisando de ajuda. Sei que a ajuda nessas horas de amigos que ficam, e não de "amores" que vem e vão. E o ultimo, faz uma semana que se foi e ainda usa de deboche e de grosseria. Bem... Não vamos falar disso.

(...)

Acho que escrever isso me fez bem. Um pouco.

29 de maio de 2011

A flor e o jardineiro

Conta-se que toda relação é composta por uma flor e por um jardineiro. Mesmo que não seja todas, esse é o tipo mais comum das relações. O relacionamento que é composto por duas pessoas, geralmente tem uma que assume o papel da flor. Bela e mais insegura em relação a tudo, ela é frágil e precisa de cuidados para poder ser quem é. À outra pessoa, cabe então o papel de jardineiro. Obcecado pela flor que fez crescer, por tudo o que cultivou, ele faz questão de estar presente todos os dias no jardim para regá-la. Ele sabe o tempo certo de fazer alguma coisa, prepara a terra, compra fertilizantes... Ele é quem é o responsável por fazer todas as podas, ele é quem deve se desviar dos espinhos e manter a relação viva. 
Mas como é de se esperar, para a tristeza do jardineiro, que apesar de toda a sua experiência, ainda surpreende-se de maneira ruim, a flor sempre morre primeiro. Sua fragilidade faz com que ela murche caia no chão. Daí, quando o jardineiro vai na manhã seguinte para regar sua linda flor, ela não está mais lá esperando por ele. Deixou apenas algumas pétalas caídas no chão, um talo incompleto e uns espinhos que perfuram o jardineiro distraído com o que acaba de ver.
Mas como todo jardineiro que se preze, este continua a regar a planta, sem flores, só dores, só espinhos, na esperança de que outra flor nasça em seu lugar. E pode demorar algumas semanas, pode demorar até mais de um ano, mas sempre virão novas flores para serem regadas.

22 de maio de 2011

Desmoronamento



Não gosto desse clima melancólico que está tomando conta de mim neste momento. Não gosto pois geralmente sei o que acontece depois dele. É como uma profecia, um prelúdio de uma dor que está por vir. Seja um fim, uma separação ou uma perda. Eu sinto quando essas coisas estão para acontecer. E não quero. Talvez toda essa melancolia seja pelo fato de ver o mundo desmoronar como areia fina e não conseguir fazer nada. Meus braços por maiores que sejam, não dão conta de toda a areia que cai sob meus pés. Isso me assusta, tenho medo de me enterrar no meu próprio mundo de areia, ficar perdido por medo de sair correndo. Como aquela lenda onde um aventureiro ganancioso se enterrou em areia por querer ficar com todo o ouro.  Não sou de sair correndo e perder aquilo que conquistei, ou me conquistaram. O que você pode fazer acerca disso? Vai parar de desmoronar ou vai abrir a porta para que eu possa sair sem maiores danos?

16 de maio de 2011

Dentes

Vejo teu futuro nos meus dentes. Nos meus dentes encravados em seus lábios para levar-te ao céu. Em meus dentes que mordem sua carne macia, afim de saboreá-la, mas não forte o suficiente para que deixem hematomas externos. Não. As marcas que quero deixar-te não são visíveis aos olhos biologicamente sensíveis a luz. As marcas que quero deixar em ti são vistas por olhos sensíveis de amigos que te percebam falar demais em mim, que te peguem distraído, fora do corpo lembrando de como eu mandei bem. As marcas que quero deixar são aquelas que te roem por dentro de vontade de gritar pra todo mundo aquilo que não deve ser falado nem em sussurro frente ao espelho.
E por falar em sussurros, esses também marcam. Um bafo quente ao pé do ouvido, uma barba que serra o pescoço alheio, uma mão que percorre cada curva perigosa do seu corpo e chega onde o sol não chega. São marcas que começaram pelos dentes e não te sairão, não me sairão. Nos destruirão.

13 de maio de 2011

Cláudia e Elisa

Cláudia voltou para seu apartamento quase vazio de móveis, e mesmo morando sozinha, trancou-se no quarto para chorar as dores que parecia trazer na mochila carregada de livros grossos sobre como a arte fez revoluções ao longo da história do mundo. Mas suas dores não eram físicas, e se ainda chegasse a esse ponto, não foi o peso de uma mochila que causara essa dor, mas o peso de uma mão. A mão de Elisa. Aquela mão que outrora lhe fizera carinho, passara delicadamente por cada curva de seu corpo esbelto, fora levantada com raiva a ser descarregada em sua cara.
                Tudo era lindo! Elisa sempre fora uma namorada perfeita; fiel, carinhosa... Gostosa e sabia muito bem usar aqueles dedos... Mas era irrefutável em suas idéias. E Cláudia não aceitava ficar calada perante tudo o que acontecia, ainda mais com ameaças de violência. Mas a amava. Tinha certeza disso. Amava seu hálito quente, amava sua pele macia e seus cabelos cacheados. Não conseguia discutir, não depois de um sorriso safado e durante gemidos surdos num apartamento quase vazio. Mas era só a transa terminar, era só o nervo relaxar que as feições se fechavam. Mesmo que as duas tentassem, era impossível que aquela relação desse certo. “Isso já deu o que tinha pra dar, Cláudia. Parte pra outra”, já havia dito Camila, amiga desde muito antes de se mudarem para a cidade onde fazia universidade. “Além do mais, seu curso ta acabando, em breve você será uma grande estilista, seu nome estará estampado nas melhores vitrines e isso te trará as mulheres mais lindas do mundo!”
                Camila estava certa, Cláudia tinha mais com o que se preocupar, mas não sabia como terminar com isso. Ela tinha certeza que por maiores que fossem as dores de cada briga, nada seria pior que a dor definitiva da separação. Então, pela primeira vez Cláudia se viu em uma igreja. Não que ela acreditasse muito nisso, até brigara muito com a vó que a criou insistindo para que “aceitasse o Senhor Jesus como seu único salvador”, mas se viu a coitada da velha morrer tentando, é por que alguma valia isso devia ter. Então ela foi e pediu um sinal, não sabia direito como pedir isso, mas pediu. Na verdade mais do que o sinal que suas palavras pediam, seu interior pedia uma solução, queria que Elisa, como num milagre, a fizesse uma surpresa, enchesse sua cama de pétalas de rosas e a esperasse nua, deitada nela, dizendo que tudo seria diferente a partir de então. Cláudia era romântica demais, e talvez essa fosse a razão das lágrimas que rolaram enquanto repetia baixo, porém num tom que foi se aumentando, fazendo com que as mulheres de saias compridas e véu nas cabeças que estavam ao seu redor, a olhassem com repreensão e pena. “Deve ser apenas a irmã dela”, ouvia-se o murmúrio nos bancos arredores. “O pastor deveria era proibir a entrada desse tipo de gente na casa do Senhor! Onde já se viu uma mulher chorando por outra?”. Mesmo Cláudia sendo muito feminina, seu choro acompanhado por declarações à Elisa ficava “estranho” demais, até mesmo se fosse para uma irmã.
                De repente, Cláudia se viu rodeada de mulheres cobertas por um véu branco, e um pastor de terno incrivelmente grande e de uma cor no mínimo duvidosa, que mais parecia brigar com a gravata estampada que conversarem, como as peças deveriam fazer quando vestem a mesma pessoa de uma vez. A briga entre terno e gravata só não era mais alta que os gritos sem sentido que saiam da boca bigoduda do pastor, que gritava aos montes, nomes de todos os demônios e satanás que jamais ouvira nem mesmo no terreiro de umbanda que foi com Elisa a pedido de um amigo dela que tinha medo de ir sozinho. Cláudia não podia fazer nada, senão sair correndo de lá. E saiu.
                Assustada, Cláudia saiu de lá às pressas. Não queria mais ser dissecada como os sapos que abria nas aulas de biologia do ensino médio. Mas seu arrependimento passara tão rápido quanto o bip de um celular ao receber uma mensagem. Pois foi isso que aconteceu. “Cláudia, não posso mais me enganar. É melhor a gente terminar logo isso. Com carinho, Elisa” Era o sinal que ela pedira a Deus. Não era nem de longe o que sua alma pedira, mas Deus atendera sua oração e mandou o sinal que sua boca pedira. Era o fim. Era hora de seguir em frente.
                Cláudia voltou para seu apartamento quase vazio de móveis, e mesmo morando sozinha, trancou-se no quarto para chorar as dores que parecia trazer na mochila carregada de livros grossos sobre como a arte fez revoluções ao longo da história do mundo. Mas suas dores não eram físicas, e se ainda chegasse a esse ponto, não foi o peso de uma mochila que causara essa dor, mas o peso de uma mão. A mão de Elisa. Aquela mão que outrora lhe fizera carinho, passara delicadamente por cada curva de seu corpo esbelto, escreveu aquelas palavras que poderiam se resumir em três letras: FIM.