27 de agosto de 2011

O Motivo pelo qual não creio em polegadas


Adorei a mulher que está trabalhando aqui em casa ajudando nos cuidados com vó! Ela é super simpática, moderna e ontem passamos um bom tempo conversando de madrugada. Mas hoje descobri que ela tem câncer de mama.
Por isso não considero nenhuma dessas postagens sobre câncer no facebook.
Ela estava aos prantos, pedindo que isso não fosse motivo pra sair daqui de casa. Ela já retirou um tumor de seu peito e agora tem outro, e polegada nenhuma que as meninas postaram no facebook podem mudar isso.
:~~



Por isso, se quiserem fazer alguma campanha, não façam mistério. Vidas estão se perdendo enquanto tentam descobrir o que diabos é 37 polegadas. 
Faça o auto-exame da mama regularmente. Procure um médico. Informe-se. Cuide-se. 
Não custa nada e vale muito.

23 de agosto de 2011

A realidade é doentia


A realidade é doentia. Ninguém suporta a febre, os delírios de dores da vida real. Daí se busca algo que te traga de volta à loucura. Esta sim é perfeita. Cores vibrantes e corações pulsantes. Pupilas dilatadas e o sentimento real do sangue correndo nas veias como a água de um rio que lava a terra seca depois de meses de seca insana.
Ah, a realidade é doentia. Insanidade pretérita de raras exceções de sentido. Essa é a vida real. Ninguém gosta da vida real. Um mundo sem edições, sem cortes e sentimentos efêmeros. Tudo demora a acontecer e o coração bate devagar. Pulsa de leve, quase parando. Gostamos é da velocidade. Da adrenalina. Do sentimento real de vida. Das tonteiras, das dores de cabeça e o chão à 30metros de nossa cabeça.
Deitamos. Encontramos conforto no azulejo frio do banheiro, enquanto nosso reflexo não encontra o espelho da pia. 
O mundo lá fora roda. Roda em seu ritmo normal e ninguém percebe. Aqui dentro o mundo gira. Pode sentir?
Eu posso.

22 de agosto de 2011

Visagens.

Algo não estava certo naquela noite. Os galos cantavam fora de hora e os cachorros uivavam desafinados para a lua cheia. "É mal presságio" murmurava dona Benta enrolada em sua colcha de retalhos. Ela tinha medo. Fora criada ouvindo histórias de Caipora e Maria Florzinha, por isso deixara sempre no terreiro uma carteira de cigarros que comprava na cidade.
Mas não era assombração alguma que passava por aquele lugar e chutava os baldes mais forte que o vento seria capaz. Era José. Ele corria. Tinha medo. Fugia. Não sabe-se se dele mesmo ou dos que lhe acercavam.
Ele apenas queria fugir, sair daquele lugar, fumar em paz os cigarros que encontrara ao relento. 
Corre! Entra na mata escura. Pequenas frestas de luz de lua. Vultos.
Um grito.
Silêncio.
Dona Benta soubera. "Maria Florzinha tratou de dar destino a quem foge com medo do amor". José morreu. Corpo lapeado e coração na boca.


6 de agosto de 2011

Uma árvore ruim


As vezes achamos demais, pensamos demais e, principalmente, falamos demais. Acreditamos que algo não vai bem das pernas e acabamos regando uma semente que estava lá, bem quetinha em seu lugar, escondida sob a terra seca. Mas dai, com nossa mania de saber de tudo, acabamos perguntando coisas que não existem e com isso acabamos molhando a terra seca que esconde a bendita sementinha. Então ela cresce e se torna uma árvore forte, frondosa e impossível controlar seu sentimento. Dai, quando ela tiver grande o bastante a ponto de suas raízes saltarem para fora do chão, tropeçamos nelas sem querer e percebemos o mal que criamos. 
A raiz que nos derrubou e nos fez voltar pra casa chorando como criança quando cai do balanço, serve apenas para nos mostrar que tudo começou com o nosso regador. Por isso ficarei calado, na minha. Não arriscarei molhar nenhuma terra seca. Mesmo que não tenham sementes, existem ervas daninhas que crescem no inverno.
Mas então você me lembra que se a semente está lá, a árvore pode nascer a qualquer momento, depois de uma chuva qualquer. É verdade. Mas não serei eu o regador, e até que esse dia chegue, eu já quero ter construído calçada nesse terreno. Castelo forte que impeça o crescimento que qualquer árvore ruim.