6 de maio de 2010

A Grande Chance


Estáva-mos eu e uma grande amiga minha passando em uma praça conhecida mais pelos seus furtos que pelas suas esculturas e seu famoso cinema fechado. Meu celular toca e tenho medo de atender devido a fama da praça. Mas vi algo que não gostaria de ver novamente. A primeira vista, uma mulher segurava um menino mais novo, de roupas sujas e rasgadas pela gola de sua camisa encardida, e com toda a força que podia batia em sua cabeça. Ao seu lado, um rapaz, seu marido, namorado ou amigo, não sei, pisava fortemente na cabeça de um outro menino que estava imóvel no chão. Chutava-lhe o rosto, esmurrava-lhe as costelas enquanto uma rodinha de curiosos se formava ao seu redor. Uns apavorados outros orgulhosos. “Esses infelizes ficam assaltando por aí, só presta assim”.
Não gosto de ver essas coisas, tenho cá meus ataques e por medo e/ou precaução preferi desviar meu caminho e me afastar. Como ia almoçar, tive que dar a volta e passar mais uma vez ao lado do que acontecia. Desta vez o tal que batia no garoto não estava mais lá, foi como se em poucos segundos ele desaparecesse e desse lugar a uma multidão de curiosos para ver o que acontecia. Via um policial e ao olhar para o garoto no chão e o reconheci. Este, ano passado veio me pedir um trocado. Eu estava sozinho e ele tentava me intimidar falando com raiva e com gírias. O que eu fiz foi conversar com ele. Conversamos sobre sua família, sobre seus estudos, seus sonhos e esperanças, mesmo que todos os itens citados sejam apenas uma fantasia nossa. 
Ao ver aquele menino ensaguentado na calçada, com pessoas e mais pessoas ao eu redor observando-o como quem olha um macaquinho enjaulado num zoológico me perguntei se aquilo era realmente preciso. Ele talvez tenha tentado assaltar aquele cara como ele pretendia me assaltar da outra vez. Mas precisava realmente toda aquela violência? Da outra vez uma conversa de “igual para igual” me livrou de um assalto e ainda me rendeu um monte de moedas que pagaram minha passagem de volta.
Passei o restante do dia triste, desolado, me sentindo um covarde, culpado por ter desviado meu caminho e não ter podido fazer nada naquela hora. Uma sensação de impotência tomava conta de mim. Mas eu realmente não poderia fazer nada naquela hora. Tantas coisas acontecem no mundo e nada podemos fazer.
À noite me perguntei se aquele menino estaria ali por opção. Tolo. Ele com certeza não escolheria isso para a sua vida. O que lhe faltou foi a oportunidade que eu, que você amável leitor, tivemos. Se eu não tivesse tido a oportunidade, a grande chance, poderia ser eu a estar sendo espancado naquela calçada. O mundo gira fora de nosso controle, mas nas coisas acontecem por cima deste solo nós podemos interferir. Você é do tipo que bateria ou conversaria com o garoto de rua?

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