16 de novembro de 2010

Prato meio vazio.

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Já me perguntaram por que eu ainda peço esmolas, mesmo sendo capaz de trabalhar e seguir em frente. Se eu peço esmolas é por que preciso destas. Sei que só receberei os restos de um almoço próprio, e é como se esse resto fosse meu por direito. Eu sei que não é, sei que tenho direito a uma alimentação decente. Todos nós temos. Mas é que esses restos me fazem bem. Conheço seu tempero e gosto deste. Já comi na mesma mesa de quem pedi esmolas. Sem essas esmolas, morro de fome. É triste para mim chegar sujo em sua porta e pedir o resto de seu almoço, mas ou é o resto ou é a fome. 
Às vezes me negam a esmola, mas no dia seguinte, não sei se por sobrar demais, não sei se por minha cara de fome, a esmola me vem de bom grado. Pode até vir num prato bem posto, com garfo e faca, como um ser humano merece.
Sei que mereço comida melhor,e até já provei lanches rápidos de um cachorro quente de qualquer esquina. Sei que por ai existe um abrigo com comida boa. Talvez nem tão boa assim, mas isso é uma questão de tempo, é uma questão de acostumar o paladar. Um dia aprenderei a gostar da comida de outras mesas. Mesas de donas de casa que não me dão esmolas, mas que me dão abrigo.
Então, aprenderei a cozinhar, e dividiremos nossos pratos, tanto para comer, como para lavar. E estarei, então, satisfeito!

4 comentários:

  1. Esse texto mexeu comigo de uma forma que você não tem noção...
    Esmolas são viciantes, e pedir um novo prato requer muito esforço porque será preciso conhecer uma nova comida, esperar que o prato fique pronto no tempo certo que não conhecemos, nos acostumarmos com um novo gosto...
    Espero que haja disposição para tal desafio, e que possamos nos alimentarmos bem, sempre!

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  2. lindo demais...esse texto.
    è de se perguntar? Porquê nos contemos com as sobras? As migalhas que parecem ser a única fonte de alimentação...

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  3. Esse texto é a nossa conversa daquela dia, aqui em casa, reescrita de uma forma muito mais bonita. Realmente me emocionei muito com o texto, nos vi em cada palavra.

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