30 de dezembro de 2014

40 dias


A ti, depois de caminhares em desertos bíblicos, ao chegardes cansado e com fome em casa, te ofereço sopa e cama quentes. Te ofereço um café à dois, regado a brisa na varanda. Ofereço meus vultos entre fumaças de teus cigarros e beijos com sabor de hortelã a te servir pães e pingados no dia seguinte. Em troca, quero tuas carícias sussurradas e coração vibrante. Quero teus dedos em meu corpo, nu. Quero teu corpo, em meu corpo, tu. 

20 de dezembro de 2014

Entre


E entre amos e amassos
Foi armando traços,
Amarrando laços.
Fazendo de nós,
A sós,
Entre sóis,
Entre lençóis,
Um nó.
Um só.

Tu


Tu que vieste  me roubar, tomando meu fôlego para si, e levando para longe todo o meu ceticismo. Tu que me levaste as mais profundas e escuras águas do teu olhar castanho, a nados em claras piscinas e mares que nada me afogam, nada me sufocam. Tu que me prendeste em asas de voos livres, indo cada vez mais longe, em experiências cada vez mais novas. Tu.

3 de março de 2014

Você não saiu de mim


Cato em meio aos espinhos, a sorte de flores ímpares para dobrar a carteira e lembrar de você. Na carteira, por sinal, sua foto ainda enfeita o plástico e o couro que me pego olhando acreditando ser mesmo você. Saio com os amigos e os chateio por falta de assunto que não seja você. Nas janelas dos ônibus? Nestas eu cochilo e acordo com você tocando minha perna sussurrando que "amor, vamos descer!". 
Não é fácil para mim admitir que não te tenho mais ao meu lado. Nem ao acordar de madrugada deixo de te procurar no mesmo quarto que eu. Sonho, tenho pesadelos, imagino e fantasio a nossa volta. Não largo nossos planos e fico olhando incontáveis vezes o último minuto de sua visualização de nossa conversa, na espera de um "Oii" cheio de alegria e esperanças carregadas de "eu te amo e volto pra você".

12 de fevereiro de 2014

O que pensei nunca mais sentir


Abro e fecho programas para disfarçar o tédio e marco encontros que nunca fui tentando, nos outros, preencher um vazio que você deixou. Não como, não durmo, não consigo dividir atenção entre meus amigos e as cartas de baralho na tela do computador. Eu que sempre comi demais, hoje me vejo forçado a comer um pão por dia, já que qualquer outra coisa multiplica-se no prato, tornando-se infinito e de cansativa mastigação e por isso adoeci.
Fico a lembrar de momentos, os bons momentos te outros tempos, não das brigas de anteontem. E são esses momentos que mais me doem, dói saber que nos vimos perdê-los como água a escorrer dos dedos.